Embora a sociedade mundial esteja focada nos fatos relacionados à pandemia do vírus COVID-19, o mercado não está parado. Na noite do último domingo, dia 29 de março, o setor mercado florestal brasileiro recebeu o comunicado da aquisição do negócio de embalagens e papelão ondulado da International Paper no Brasil, pela Klabin S.A.
Entre as sete unidades que compõem o negócio de embalagens, existe uma única de fibra virgem, localizada no município de Nova Campina, região sul de São Paulo. É uma fábrica de tamanho pequeno (sua capacidade de 160 mil toneladas/ano), antiga em maquinário e lay-out, encravada em um local de difícil expansão, mas de grande importância para a economia florestal da região. Desde sua criação, pela família Sguario, há mais de quatro décadas, passando pelo Grupo Orsa até ser adquirida pela International Paper, em 2015, a fábrica foi um importante driver do desenvolvimento de uma região que hoje conta com, aproximadamente, 580 mil hectares de florestas plantadas, distribuídos em mais de 340 mil hectares de pinus e 240 mil hectares de eucalipto, além da formação de um cluster de empresas de base florestal, formado por dezenas de pequenas e médias serrarias.
Do ponto de vista industrial, aparentemente, a aquisição não é um grande passo para empresa. Com investimento de R$ 330 milhões, a compra do negócio embalagens dá 6,6% de market share adicional do mercado interno de papelão ondulado à Klabin, aumentando sua liderança de 17,3% para 23,9% e deixando seu principal concorrente – a Westrock – ainda mais longe (com seus 9,3% de mercado).
Do ponto de vista florestal, a importância da aquisição merece maior reflexão. Embora a única fábrica de fibra virgem do negócio não possua florestas próprias, até 2018 era a principal consumidora de madeira fina de pinus da região, até que a própria Klabin começou a buscar matéria-prima no sul de São Paulo (a centenas de quilômetros de suas fábricas no Paraná), e competir com a International Paper.
O GRUPO INDEX tem conduzido uma série de estudos de mercado para auxiliar seus clientes entender a dinâmica entre oferta e demanda de matéria-prima de base florestal. Em um estudo recente, com foco na região da fábrica transacionada, foram identificados mais de 200 milhões de metros cúbicos de madeira, entre pinus e eucalipto, distribuídos, principalmente, em florestas jovens e com idades entre 12, 13 e 19 anos.
O estoque de madeira ilustra porque o passo dado pela Klabin não se justifica apenas pelo aumento do market share industrial, mas é um passo estratégico para a garantia do acesso à uma importante base de suprimentos. No fim das contas a aquisição poderá ter sido mais importante para a Klabin por aquilo que o ativo não tem, do que por aquilo que o ativo tem…
¹Raio de 100 km