Vivemos a segunda grande pandemia do século, e sem sombra de dúvida estamos muito mais alarmados com o COVID-19 do que com o H1N1. E qual seria o motivo? A virulência do agente causador? As mortes resultantes da incúria da Itália? Histeria coletiva, criada pelas grandes mídias? Ou o descaso geral dos governantes, de uma maneira geral, com a saúde? O Brasil, por exemplo, perdeu aproximadamente 20.000 leitos nos últimos 10 anos… Fato comum em outros países, inclusive países de primeiro mundo, como França, Espanha e Itália.
Antes que me julguem, fato comum hoje nas mídias sociais, o objetivo desse artigo é apenas provocar uma reflexão sobre o futuro, o momento pós pandemia (ou alguém acredita que não sobreviveremos?), seja, nos que acreditam que a pandemia é apenas “um grande circo midiático e que não deveríamos arriscar a saúde da economia global em detrimento da saúde”; ou nas pessoas que, realmente, acreditam que a solução é nos isolarmos em casa, pois a saúde é o bem mais importante do indivíduo.
Para iniciarmos essa ponderação, uma breve comparação entre a pandemias causadas pelo H1N1 e pelo COVID-19: o vírus H1N1, infectou 651.000 pessoas e causou 18.649 óbitos no mundo, sendo que a maior taxa de mortalidade ocorreu no continente americano, com 76,9 mortes a cada 10 mil habitantes. No Brasil, 44.000 casos e 2.051 óbitos foram confirmados, e a maior incidência ocorreu nas regiões Sul e Sudeste, em crianças menores de 2 anos e adultos com idade entre 20 e 29 anos.
No momento em que estava escrevendo esse artigo, os números do COVID-19, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), eram de 666.718 casos confirmados no mundo e 31.196 mortes. No Brasil, 4.256 casos confirmados e 136 mortes. Apenas para efeito de comparação, o H1N1 nos primeiros 28 dias, no Brasil, infectou 627 pessoas e matou apenas uma.
Pesquisas demonstram que os índices de mortalidade da H1N1 variam de 0,01% a 0,08%, enquanto, a mortalidade causada pelo coronavírus gira em torno de 3,74%, segundo dados da John Hopkins University. Importante lembrar que o H1N1 acometia, principalmente, crianças e jovens, enquanto o COVID-19 ataca mais idosos, principalmente acima de 80 anos. Talvez, essa seja a razão de o H1N1 ter sido mais fatal nas Américas do que na Europa, pois temos uma população mais jovem, enquanto o COVID-19 tem causado mais mortes na Europa, detentora de uma população mais envelhecida.
Crises sempre mexem com o emocional das pessoas, principalmente crises globais, pois não temos uma rota de fuga, todas acabarão por nos levar ao mesmo cenário. O que sei é que somos seres resilientes, mais cedo ou mais tarde iremos superar. Mas a pergunta que precisamos fazer é: a que custo? Por esse motivo convido todos a ponderarem suas convicções, não é hora de acreditar ou não acreditar, é hora de tomarmos decisões mais assertivas e cobrarmos de maneira racional nossos líderes.
O COVID-19 é umas das maiores pandemias já vivenciada pela humanidade, mas em contrapartida, nunca estivemos tão bem preparados do ponto de vista científico. Nossos governantes, gostemos deles ou não, estão buscando tomar as melhores medidas possíveis. Esqueçam a politicagem e observem as ações, vejam as equipes técnicas trabalhando. O Brasil está tomando todas as medidas emergenciais necessárias em todas as áreas (saúde, social, econômica). Vamos ser realistas, deixem de lado o viés ideológico, analisem as ações, apenas, do ponto de vista técnico. Eu fiz isso, conversei com vários especialistas e percebi que estamos conseguindo enfrentar esse desafio. Isso me trouxe mais segurança.
Não vou comparar os dados do COVID-19 com outras doenças, como malária, dengue e até a desnutrição, muito mais letais, pois não acho intelectualmente justo fazer esse tipo de comparação. Uma vida é, e sempre será, o maior presente que ganhamos, indiferente de sua crença religiosa. Entretanto, não podemos deixar o pânico diminuir o brilho da razão e nos jogar no movimento de manada.
Reforço!!! Não estou desprezando a seriedade do momento. Inclusive, eu, minha família e os colaboradores do Grupo Index adotamos todas as medidas preventivas necessárias, home office, maiores cuidados com a higiene, entre outras e iremos prorrogar o máximo possível o nosso retorno.
O que pretendo chamar atenção é que existe vida fora da mídias sociais, e que quando sairmos de nossos bunkers, outras doenças continuarão matando, empregados e empregadores precisarão se alimentar, pagar suas contas, seus impostos etc. A vida não vai parar, e aí? Abro aspas para Mateus Bandeira (Ex-secretário de Planejamento do RS, ex-presidente do Banrisul):
“A vida de cada brasileiro é valiosa, mas o mundo não vai acabar depois que o coronavírus passar. As consequências de uma crise mal gerida podem durar um tempo muito maior do que a fase mais aguda da crise – 4 meses, talvez.”
Aproveito para trazer alguns dados que não podem ser esquecidos nesse momento: apenas 6% da população brasileira têm algum tipo de poupança; 99% das empresas no Brasil são empresas de pequeno e médio porte e são responsáveis por 80% dos empregos gerados no Brasil; sendo que, 27 dias é o tempo médio de caixa dessas empresas.
Portanto, precisamos pensar: será que as políticas severas que propõe um lockdown horizontal estão corretas? Será que o remédio não virará veneno?
A vida não irá parar, todos os economistas apontavam para um ano de retomada da economia, e agora passaremos por uma provável recessão. Essa situação poderá nos levar de volta para o aumento do desemprego, que não vem sozinho, vem acompanhado do aumento da criminalidade, aumento de problemas sociais etc.
Aqui deixo mais uma pergunta: será que o lockdown vertical é a melhor opção? São vários os apoiadores dessa estratégia, entre eles Thomas Friedman, escritor e colunista do New York times e autor do Best Seller “O Mundo é Plano” (não, ele não é terraplanista, antes que me perguntem), que, recentemente, publicou em sua coluna a opinião do DR. David L. Katz, diretor-fundador do Yale University’s C.D.C. Abro aspas para o seu posicionamento:
“Devemos salvar o maior número de vidas; Devemos evitar que o sistema de saúde colapse; mas não podemos, em nome desses objetivos, destruir a economia, pois o resultado dessa destruição, levará muito mais vidas”
No último sábado o Ministro da Economia, Paulo Guedes, em uma live realizada pela XP Investimentos, ponderou:
“Se liberar cedo demais é uma catástrofe na saúde, se liberar tarde demais é uma catástrofe na economia”, afirmou. “Não me arrisco se são necessários duas a três semanas (de isolamento) para a saúde ou dois a três meses, mas sei o tempo que a economia aguenta.”
Estamos, literalmente, vivendo um impasse mexicano, um confronto em que as partes não podem proceder ou fugir sem se expor ao perigo, permanecendo à espera de um acontecimento externo que resolva o conflito… vejamos, se ficarmos em casa, a economia não suporta… se voltarmos para o trabalho, o caos no sistema de saúde será de proporções terríveis….resultado, estamos paralisados, esperando que uma vacina seja produzida.
Então, o que fazer para sairmos dessa paralisia? Proponho que sigamos os ensinamentos Yuval Harari, um dos maiores pensadores do nosso século, que afirmou que segregação não é o caminho, mas sim a cooperação. Não será, simplesmente, o isolamento que irá nos salvar, mas sim a solidariedade e a empatia com o próximo.
Ainda, segundo Yuval Harari, um novo mundo irá surgir, no qual imperará a solidariedade global, que terá como diretrizes a confiança em dados científicos e especialistas, em detrimento de teorias infundadas da conspiração e de políticos que servem a si mesmos. A tecnologia e a rapidez na transmissão de informações, permitirá que a descoberta de um médico italiano em Milão no início da manhã possa salvar vidas em Teerã à noite. Yuval, alerta, “para que isso aconteça, precisamos de um espírito de cooperação e confiança global“.
Devemos procurar caminhos equilibrados, obviamente não podemos desconsiderar os dados científicos sobre o vírus e sua disseminação e, tampouco, os números da economia, um caminho intermediário entre a economia e a saúde parece ser a escolha mais acertada, e, aparentemente, será o escolhido pelos nossos governantes.
Convido, a todos que chegaram até esse ponto da leitura, a refletirem sobre o que queremos para o futuro e aproveitarmos essa crise para uma mudança radical. Segundo ensinamentos do físico e teórico, Fritjof Capra, após grandes crises a humanidade passa por um processo positivo de evolução e desenvolvimento, o ponto de mutação, ou seja, depois da tempestade o Sol aparece.
Vamos aproveitar esse momento de crise para cobrar os nossos governantes, exigir mudanças e aprovar reformas que precisam ser feitas. Não sejamos massa de manobra de políticos corruptos e populistas, que estão usando o pânico das ruas para se promoverem…não vamos deixá-los esquecer, que governos são instituídos por nós, o povo, e seus poderes derivam do nosso consentimento e da nossa vontade.
Assim sendo, para não ficarmos apenas na conversa fiada, ouso, sugerir uma pequena lista de ações para uma plataforma política emergencial e ao mesmo tempo estruturante, para que possamos começar a construir esse novo mundo preconizado por Yuval:
- Uma coalizão política para o projeto Brasil 2022, deixando claro que teremos anos difíceis, mas os nossos políticos estarão unidos para ajudar o Brasil e que terão como objetivo no curto e médio prazo:
- Apoio ao setor produtivo com prioridade às micro, pequenas e médias empresas a superarem essa crise, mas não apenas isso, que possam se estruturar para que em eventos catastróficos futuros não dependam do Estado para superarem as adversidades;
- Aproveitar essa crise para simplificar o sistema tributário, via reforma tributária;
- Redução de gastos públicos;
- Acabar com o fundo partidário (o partido que quiser eleger seus candidatos, que conquiste filiados dispostos a pagar por suas ideologias);
- Reforma administrativa e do judiciário;
- Fim dos penduricalhos do alto escalão público;
- Programas sociais com data de entrada e saída, medir o sucesso desses programas pelo número de pessoas que abandonaram o programa e não pelo número total;
- Linhas de financiamento do BNDEs com taxa zero de juros;
- Legislação facilitando o aporte de recursos por meio de fundos venture capital em startups voltadas para inovação;
- Investimento em educação de base, ensino profissionalizante;
- acabar com o foro privilegiado e decretar a prisão em segunda instância;
- Aproximação das Universidades Públicas do setor privado;
- Priorizar os investimentos em saúde pública e saneamento básico;
- Compartilhamento de dados e informações de forma transparente, eficiente e global, sem passar por cima das liberdades individuais;
- Valorizar o Capital Natural, adotando de vez o modelo econômico pautado no Desenvolvimento Sustentável.
Convido, a todos, a pensarem sobre os pontos levantados e postarem comentários com sugestões para ampliarmos a presente pauta, compilarmos e atualizarmos a conversa futuramente.
O Mundo não vai acabar! Agora, se ele será melhor ou pior, isso só depende de nós.