O maior consumo de produtos de higiene pessoal e limpeza e a busca por oportunidades de investimento que ofereçam perspectiva positiva no longo prazo têm garantido o aquecimento de ao menos dois segmentos do setor de base florestal no Brasil durante a pandemia do covid-19, a despeito do impacto negativo do isolamento social na atividade econômica. De acordo com o sócio-diretor do Grupo Index e da consultoria Forest2Market do Brasil, Marcelo Schmid, a demanda de celulose, que tem o maior peso na composição dos negócios do setor, segue firme e fundos de investimento em florestas estão bastante ativos neste momento.
“O setor florestal é muito vinculado a celulose, cujo momento é bom. E a tendência é que continue bem“, afirma Schmid, acrescentando que essa perspectiva está baseada na regularização contínua dos níveis de estoque da Suzano e na mudança de hábito do consumidor, que vai sustentar a demanda pela fibra. Grandes produtores brasileiros, como Suzano, Klabin e Eldorado, confirmam que os embarques estão aquecidos.
Conforme o especialista, que ao longo das últimas semanas manteve contatos frequentes com clientes para mapear os impactos da covid-19 no setor, o relato mais frequente é o de que a pandemia elevou o consumo global de papel para higiene, contribuindo para a redução dos estoques de celulose.
Do lado dos fundos de investimento, há uma busca mais acentuada por ativos florestais, alimentada pela necessidade de garantir retorno aos investimentos e pela associação cada vez mais comum entre grandes produtores de celulose e papel e as chamadas “timos” (do inglês Timber Investment Management Organization). Diferentemente do que se viu no passado, porém, os fundos agora estão interessados em ativos menores, uma vez que os grandes maciços florestais disponíveis no país já foram negociados, pondera Schmid.
Por outro lado, mesmo em embalagens, segmento que se beneficia com os picos no consumo de bens não duráveis e da maior movimentação do comércio eletrônico, a crise tem feito vítimas, pondera o especialista. “Há alguns segmentos que vão muito mal, como a calçadista”, diz.
Entre os produtores de madeira serrada, o movimento varia conforme o mercado final de madeira. De acordo com Schmid, enquanto algumas empresas reportaram redução dos turnos de trabalho ou demissões diante da menor demanda, outras indicaram que as operações ainda não foram afetadas. Parte dos efeitos no setor, observa, deveu-se mais a medida de restrição à circulação do que propriamente ao consumo, de forma que a expectativa entre os clientes era a de que as operações fossem normalizadas. Já para a construção civil, segmento que é grande demandante de produtos de base florestal, a expectativa era de redução das atividades a partir de abril, diante da provável redução na produção de insumos e da manutenção do isolamento social. “Esse problema deverá afetar algumas cadeias específicas do setor florestal, como por exemplo, compensados de madeira”, aponta Schmid.
De forma geral, resume o especialista, produtos voltados ao mercado externo, como molduras e componentes, têm sido menos afetados que produtos voltados ao mercado doméstico e ao varejo.
Matéria publicada originalmente em: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/04/22/fundos-de-investimento-e-celulose-movimentam-setor.ghtml