Quando ainda estava cursando engenharia florestal, há mais de vinte anos, me preocupava com o caminho para qual o curso iria levar a minha vida, pois achava o campo de trabalho do engenheiro florestal limitado e incerto.
Não havia vagas de emprego em abundância, as opções mais nítidas no horizonte eram iniciar uma longa carreira em uma grande empresa em uma nova cidade, longe de centros urbanos, ou permanecer na minha cidade e seguir uma carreira acadêmica, como alguns colegas fizeram.
Ouvia com certa inveja os relatos de professores que nos contavam dos “anos de ouro” da engenharia florestal, nas décadas de 70 e 80, época em que os formandos do curso já tinham duas ou três ofertas de emprego, antes mesmo de se tornarem engenheiros!
Optei por ficar em Curitiba, começar meu estágio em uma empresa de consultoria, ainda sem muita certeza do que eu queria/seria da vida. Felizmente, o estágio me deu visão de mercado, a experiência trouxe confiança para meu futuro profissional, mudei de perfil e postura e fui efetivado como engenheiro, dando início à uma carreira de consultor, nesta mesma empresa.
O trabalho de consultor florestal me levou a perceber que minha visão acadêmica da profissão não estava correta. Com poucos anos de atuação, tive o privilégio de trabalhar na prática com diversas disciplinas da grade curricular de um engenheiro florestal. Muito além disso, fui obrigado a aprender na marra outras disciplinas fundamentais para a carreira e para a vida de qualquer profissional. Disciplinas que a academia não nos oferece.
Nesses vinte e tantos anos de profissão, muito mudou em minha carreira.
Aprendi valores fundamentais para uma carreira baseada em relações (e qual carreira não é?).
Conheci a Floresta Amazônica em 05 estados diferentes, desenvolvi projetos em diversos estados brasileiros e em vários países da América Latina, participei e dei palestras em diversos eventos na Europa, Japão, Filipinas, Chile e Estados Unidos.
Fui técnico, peão, consultor, planejador, palestrante, vendedor. Troquei pneu furado e desencalhei carros (mais vezes do que gostaria). Abri picadas com facão na Amazônia, viajei em jatos privados de clientes, tomei negroni na Faria Lima, – coração financeiro do país – e cerveja às margens do Rio Xingú – coração da floresta amazônica.
Hoje, eu diria para o jovem Marcelo Schmid, de 20 anos atrás: o campo de trabalho do engenheiro florestal é limitado? Não. Limitada era a minha visão! O campo de trabalho do florestal é, de fato, vasto e interessante, principalmente nos tempos atuais: empresas de base florestal estão em expansão, criando várias oportunidades para engenheiros florestais que tenham iniciativa e acreditem em inovação; muitos investimentos nacionais e estrangeiros movimentam uma grande cadeia produtiva de florestas plantadas e precisam de engenheiros florestais; o crescimento da demanda de investimentos e empreendimentos sustentáveis baseados em políticas ESG, requerem a atuação de engenheiros florestais criativos e antenados com questões ambientais globais e sociais.
Eu diria ainda, para o Marcelo de 20 anos atrás: não acredite na máxima “é preciso fazer o que se gosta”, mas aprenda a gostar daquilo que você faz, fazendo de forma criativa, engajadora, inovadora, com excelência e sempre, mas sempre, tendo em mente o próximo passo.
Por fim, eu concluiria minhas sugestões para o jovem Marcelo: não se limite pelos muros da grade curricular de sua profissão. Saia da caixa! Vá além! A educação formal é necessária, mas depois do diploma, a carreira profissional se constrói com muito mais que isso. Não é porque você é engenheiro florestal que irá somente plantar árvores para o resto de sua carreira. As chamadas soft skills, ou seja, as suas características comportamentais, subjetivas, são muito mais importantes que entender de dendrometria, manejo ou inventário florestal, visando construir uma carreira de sucesso!
Não tenho máquina para voltar no tempo e falar tudo isso ao Marcelo, de vinte e tantos anos atrás. Mas talvez você, futuro colega de profissão que está lendo esse texto, possa refletir um pouco sobre a grande oportunidade que está à sua frente. E agarrá-la.