O coronavírus (COVID-19) está causando sérios danos econômicos, e ainda causará muito mais estragos, tanto no cenário econômico como social. A pergunta é: o Mundo será o mesmo depois do Coronavírus? Antes de responder essa pergunta, vamos fazer um rápido tour sobre a disseminação do vírus pelos Mundo.
A China entrou em quarentena no início de fevereiro, e milhões de chineses foram colocados em estado de isolamento. Empresas fecharam as portas e paralisaram suas linhas de montagem, o comércio em sua maioria foi fechado, com exceção de alguns supermercados e farmácias. O resultado foi uma queda brusca na atividade do setor privado (PMI – Índice dos Gerentes de Compras). A China também fechou suas portas para o mundo, e diversas companhias aéreas mundiais suspenderam seus voos para o país.
Infelizmente, todo esse esforço não foi suficiente, e o coronavírus começou a sua trajetória rumo ao ocidente. Primeiro, chegou a Coreia do Sul, e na sequência o vírus se espalhou pela Europa, principalmente na Itália, resultado da falta de atitude e descompromisso do governo e da população no combate a disseminação do vírus.
Finalmente, o vírus chegou nas Américas. O Brasil vive uma dicotomia nas suas ações de combate a pandemia, desde o início o governo federal vem tomando medidas para evitar um colapso da rede pública, mas procura minimizar o real impacto, enquanto alguns estados têm tomados medidas mais duras no combate. O resultado dessa dicotomia é um mix de histeria e pouco caso da população. Ao mesmo tempo que vemos alguns estocando comida e “papel higiênico”, temos pessoas aproveitando a quarentena para ir a praia ou parques – situação que espero que mude nas próximas semanas, pois viveremos o auge da pandemia no Brasil.
Em resumo, a situação mundial é: viagens a turismo e a negócio reduziram drasticamente, e como consequência tivemos o colapso de empresas aéreas e de turismo; conferências e eventos esportivos cancelados; e, principalmente, toda a cadeia global de produção está sendo atingida, com várias fábricas e empresas fechadas, o que diminui a oferta global de produtos e serviços. Como resultado, um forte impacto sobre a oferta (cadeias interrompidas, fábricas paradas, férias coletivas) e sobre a demanda (restrições de circulação, fechamento de escolas, interrupção de eventos de massa, viagens canceladas, lojas vazias, comércios sem clientes).
O cenário futuro, que não é positivo (a expectativa é de que o pior ainda está por vir), gerou pânico nos mercados financeiros. Vivemos depois de um longo período de alta crescente nas bolsas e na economia mundial, o que os especialistas chamam de cisne negro, um evento de proporções globais e sem possibilidade de previsão que derrete a economia mundial. Bolsas de valores desabaram, o preço do barril de petróleo afundou e o indicador de volatilidade, também conhecido como Índice do Medo (indicador ATR do inglês, Average True Range), alcançou as máximas vistas apenas em 2008, no auge da crise financeira mundial.
Em situações como essa os investidores buscam se segurar em algo sólido, e suas principais escolhas são ouro e títulos públicos americanos, porém, o aumento pela procura desse último provocou a redução dos juros pagos e, como consequência, os títulos de 30 anos do governo americano chegaram a pagar a menor taxa de juros de sua história: 0,93%.
Resultados:
- Quebra nas cadeias globais de suprimento, pois China, Japão e Coreia do Sul, os maiores exportadores de produtos manufaturados, estão com suas fábricas parcialmente paralisadas;
- Queda no preço das commodities, pois os países asiáticos são grandes importadores de commodities do resto do mundo, e utilizam essas commodities exatamente para fabricar os produtos que exportam mundialmente. Esse impacto já é sentido no mercado mundial, e os preços voltaram ao nível de 2002, como ilustra o gráfico abaixo:
- Renda na China, Coréia do Sul e Japão caem, pois estão produzindo menos;
- Redução de importação dos paíse asiáticos, (commodities da América Latina e bens de consumo da Europa e dos EUA).
- Redução da exportação dos países europeus e americanos, o que gera renda menor nesses países.
- Redução da oferta na Europa e nas Américas, pois vários dos bens e serviços fabricados pelas empresas europeias e americanas contêm produtos intermediários fabricados na China, no Japão e na Coreia (cadeias globais de produção). Chegamos a um choque mundial de oferta.
Agora, a pergunta de 1 milhão de dólares: teremos aumento de preços (restrição da oferta) ou redução de preços (queda da demanda)?
Não importa. De qualquer maneira, as empresas, por não estarem mais nem produzindo e nem vendendo, tendem a se tornar insolventes, o que pode levar a não honrar suas dívidas, e consequentemente, colocar em risco todo o sistema bancário e financeiro.
Agora podemos responder a questão inicial: o Mundo será o mesmo depois do Coronavírus?
A resposta é clara: não! Não seremos os mesmos, mas se seremos um mundo melhor ou pior, isso dependerá das escolhas que nossos governantes e gestores seguirão. Lendo diversos artigos de diferentes economistas, resumi algumas alternativas que definitivamente não devemos seguir, e outros que parecem ser mais adequados:
- Não devemos seguir a velha cartilha do bem estar social, ou seja, os governos não podem aumentar seus gastos, pois isso seria um alívio imediato, mas, como estaríamos produzindo pouco, o gasto estatal levaria ao aumento dos preços:
- O governo não pode imprimir dinheiro, muito menos se endividar em nome de uma salvação do mercado;
- Políticas fiscais e monetárias não serão a salvação do mercado. Podem até ser no curto prazo, mas no longo podem ser um desastre (alguns teóricos do caos acreditam que a crise do coronavírus é na verdade uma nuvem de fumaça para encobrir os maus feitos da última grande crise mundial, onde bancos centrais reduziram suas taxas e passaram a operar no negativo, mas isso é outro assunto e não quero entrar em teorias da conspiração);
- Redução de impostos é a solução no curto prazo, mas não será o suficiente para gerar o aumento da produção, pois não teríamos renda para sustentar a nova demanda;
- Salvar grandes empresas por meio de refinanciamento de suas dívidas é um grande risco, pois poderia gerar maior inflação e, ainda, corrupção por meio da distribuição de grandes bônus, como aconteceu em 2008;
- Governos devem dar espaço para o mercado se reequilibrar. Perceba, não são benécies e sim um fôlego, para que pequenas e grandes empresas possam se reestruturar:
- Políticas de adiamento do pagamento de tributos com taxas menores. Isso não promove uma nova entrada de dinheiro no mercado, o que poderia gerar o aumento da inflação, e o Estado não abre mão de suas receitas futuras;
- Redução da regulação exagerada e da burocracia para produção, como licenças e outra regulações (no Brasil, aproveitar o momento e aprovar a reforma tributária);
- Universidades e organizações científicas se aproximarem do mercado e passar a produzir pesquisas de maior interesse para o mercado, e não apenas buscar o “estado da arte”;
- Derrubar subsídios e barreiras para produção e importação, afinal, a crise de oferta e demanda é global, não adianta apenas incentivarmos a produção nacional;
- Bancos nacionais devem focar no microcrédito para a população em geral;
- Bancos de desenvolvimento, como o BNDEs, devem financiar exclusivamente pequenas e médias empresas;
- Incentivar o investimento em inovação, ou seja, zerar impostos sobre os ganhos de capital dos fundos de investimento e private equity ou venture capital que investirem em startups ou empresas que estão investindo em inovação;
Concluindo, viveremos tempos difíceis. Há uma grande chance de vivenciarmos um recessão mundial; segundo Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o COVID-19 deve custar US$ 1 trilhão à economia global em 2020. Portanto, a crise será intensa, talvez até maior que 2008-2009, mas devemos ser resilientes e aproveitar esse momento de ecdise na economia global para repensarmos nossos modelos de negócio. Devemos promover, finalmente, o desenvolvimento sustentável, no qual pequenos e médios players tenham seus assentos garantidos no mercado global, o capital natural seja valorizado e valorado, assim como, de uma vez por todas entender que precisamos de gestores públicos mais liberais e que concentrem-se em áreas de interesse público (saúde, segurança, infraestrutura básica e educação), deixando o mercado livre para os empreendedores.
Fontes: US 30 years bond. https://tradingeconomics.com/united-states/30-year-bond-yield Índice CRB . https://www.refinitiv.com/en/financial-data/indices/commodity-indices Anthonny P. Geller. Mises Brasil. www.mises.org.br Thiago Fonseca. Mises Brasil. www.mises.org.br Gary North. Mises Brasil. www.mises.org.br Agencia Brasil EBC. agenciabrasil.ebc.com.br