Quando chegou o dia previsto na agenda para sentar na cadeira e preparar este tradicional artigo, o único que nos permitimos escrever na primeira pessoa, ficamos no mínimo receosos, pois afinal, depois de tudo que passamos em 2020, tentar prever qualquer coisa que possa acontecer em 2021 é um exercício desafiador! Porém, ao rever cada uma das 10 previsões que escrevemos para o ano passado, percebemos que, mesmo em um ano completamente atípico, onde a economia global sofreu um revés que o mais pessimista analista de mercado poderia prever, ficamos muito perto de acertar a maioria delas!
Desta forma, alteramos um pouco o formato das previsões para 2021. Neste artigo, revemos as previsões feitas para 2020, comentando os nossos acertos e erros, e destacamos aquilo que deve acontecer em 2021.
- Como ficará o clima de negócios no mundo após a pandemia?
No final de 2019 escrevemos que a perspectiva de recessão econômica global, semeada ao longo daquele ano, diminuiria bastante em 2020, com a sinalização de um possível acordo comercial entre Estados Unidos e China e mudanças em políticas fiscais e monetárias de países importantes.
Naturalmente, não tínhamos a menor ideia de que em 2020 a economia global não seria regida por conflitos bilaterais, mas estaríamos todos no mesmo barco, lutando contra um inimigo comum. Infelizmente, erramos feio aqui…
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia global encolheu 4,4% no ano de 2020. Como comparação, em 2009, quando o mundo enfrentou uma crise financeira pela última vez e a economia contraiu apenas 0,1%. Muitos economistas preveem que precisaremos de pelo menos um ano para que os mercados de trabalho retornem a algo semelhante à era pré-pandemia. Considerando que o quadro atual da pandemia deverá se estender por boa parte de 2021, teremos um ano árduo de reconstrução e recuperação econômica. Crescimento? Somente em 2023.
- E quanto à economia brasileira? Erramos feio em nossas previsões, mas quem não errou?
Havíamos destacado no ano passado que a expectativa de crescimento econômico brasileiro para 2020 era de 2,30%. Essa projeção, do Banco Central, era referendada por grandes bancos e instituições financeiras privadas.
Porém… (não preciso repetir aqui o que todos sabem que aconteceu).
Um maior prejuízo da pandemia na economia brasileira foi, de certa forma, evitado pelo estímulo ao consumo e ajuda às empresas, dado pela injeção de mais de 600 bilhões de reais pelo governo. Porém, essa medida provocou uma explosão da dívida pública brasileira, fazendo com que 2020 tenha registrado o pior déficit da história do país.
O cenário de incertezas refletiu também em um menor volume de investimentos e dificuldade na implementação da agenda de privatização prometida pelo governo. 2020 deve apresentar um recuo significativo do Produto Interno Bruto (PIB), segundo diferentes projeções, de pelo menos 5%.
- Investimentos estrangeiros: infelizmente, mantemos o nosso pragmatismo.
No ano passado destacamos que, devido às discussões internacionais a respeito do desmatamento e queimadas na Amazônia, dificilmente veríamos as regras que restringem a aquisição de terras por empresas estrangeiras no Brasil serem flexibilizadas.
Esse ano, infelizmente mantemos a nossa opinião pragmática. Por mais absurda que seja a restrição (ainda sob a égide de uma lei de 1971) e por mais que nós torçamos por essa mudança que traria um grande volume de investimentos ao setor florestal, ela não acontecerá em 2021.
Muito embora o Projeto de Lei 2.963 de 2019 tenha sido aprovado pelo Senado, ainda falta a aprovação da Câmara Senado e a sanção presidencial. E, conforme já havíamos destacado no ano passado, não se espera que o presidente da república sancione a lei. O próprio presidente afirmou em entrevista dada nos últimos dias do ano que se a Câmara aprovar ele irá vetar, pois “nos falta patriotismo e não podemos permitir que o Brasil seja comprado”…
- E os investimentos nacionais?
A última redução da taxa básica de juros (SELIC) ocorreu em Agosto de 2020 e a reduziu para 2,0%. Conforme destacamos há um ano, essa queda reduz o interesse de investimentos em fundos de renda fixa como o CDB, LCA (Letra de Crédito Agrícola), LCI (Letra de Crédito Imobiliários) e faz com que investidores busquem alternativas de investimento em longo prazo, de baixo risco, como as florestas.
Durante o ano de 2020 vimos uma movimentação razoável de fundos nacionais no setor florestal (movimentação naturalmente menor que o esperado, devido à pandemia). Em 2021, à medida que a economia se recupere e diante da taxa de juros muito baixa, o investimento em florestas continuará sendo uma boa opção para remuneração de capital.
Não se surpreenda em ver novos players nacionais procurando florestas como formas de investimento…
- E sobre a recuperação da celulose, acertamos?
Com um ritmo lento de crescimento econômico global, esperávamos que até o fim do primeiro semestre de 2020 alcançaríamos maior equilíbrio entre oferta e demanda e daríamos início à recuperação dos preços de celulose. Acertamos em cheio!
Com a diminuição da oferta e muito esforço comercial, os preços reagiram muito bem e fizeram de 2020 um ótimo ano para o mercado de celulose. Obviamente, talvez esse texto fosse completamente diferente se não tivéssemos a alta do câmbio, que favoreceu extremamente o segmento.
- Em 2020 falamos sobre o mercado de energia neste item. Agora vamos falar sobre outra coisa…
Por vários anos consecutivos temos esperado uma expansão significativa do mercado de energia de biomassa no país. Em 2020, não foi diferente: esperávamos que a energia de biomassa florestal ganhasse uma importância bem maior, o que não ocorreu (até mesmo, por conta da crise que assolou o país).
Então para 2021, usaremos este espaço para falar de outro assunto que vem ganhando força e deverá ocupar boa parte das discussões do setor florestal em 2021: carbono.
Desde a criação do mercado de créditos de carbono, há cerca de duas décadas, as discussões relacionadas ao carbono florestal foram focadas principalmente em florestas nativas, porém, ao longo de 2020 o interesse de investidores em florestas plantadas e empresas de base florestal em relação ao tema foi grande.
Espera-se uma demanda crescente por créditos de carbono e as florestas podem suprir esta demanda, desde que as regras (a serem discutidas na COP-26 em Novembro de 2021), sejam definidas.
Além disso, a crescente preocupação das empresas e do mercado com práticas de ESG (Environmental, Social and Governance), propulsiona o tema, afinal, nada melhor que ganhar dinheiro e ainda contribuir para o principal problema ambiental do século, não?
- Construção civil continua sendo um importante cliente para o setor
Previmos que a construção civil teria um grande ano em 2020, após 5 anos de recessão. É sempre importante destacar que a construção civil é um segmento importante para o setor de base florestal.
Não acertamos em cheio, mas ficamos longe de errar. O mercado imobiliário também foi afetado pela pandemia, mas o impacto foi uma queda de apenas 2,2% no volume de vendas entre o primeiro semestre de 2019 e o mesmo período em 2020. Existe expectativa de que os lançamentos adiados sejam retomados até o final do primeiro semestre de 2021, pois há grande otimismo por parte dos empresários do setor quanto à retomada do crescimento, se a alta dos materiais de construção (incluindo aqui a madeira) não for proibitiva para o setor.
Já nos Estados Unidos, importante consumidor de produtos brasileiros de base florestal, após sofrer um impacto significativo durante o primeiro semestre (como resultado daquilo, que todos já sabemos….) o mercado de construção reagiu fortemente no segundo semestre, demandando bastante insumos do setor florestal.
O fenômeno de reformas de casas, tanto no Brasil quanto nos EUA, foi outro fator que impactou bastante o mercado de insumos de base florestal, uma vez que durante o isolamento as pessoas passaram a dar mais atenção a suas casas, investindo em ampliações, reformas, etc.
- Em 2020 acertamos em afirmar que a guerra por matéria-prima no mercado de pinus seria mais acirrada que em 2019. Acertamos? E como!
Nunca antes em nossa história vimos tanta preocupação com a (falta de) matéria prima florestal no mercado do pinus, como em 2020. E nunca fizemos tantos estudos e análises de mercado para tentar mostrar aos nossos clientes alternativas criativas para encontrar um “mar azul” nesta batalha.
A falta de matéria prima pode ser explicada facilmente pela Lei da Procura e da Oferta, ou ainda mais simplesmente pela matemática: cinco menos sete é menos dois! E hoje estamos enxergando este “menos dois” cada vez mais perto, no mercado de pinus.
A consequência deste fenômeno é óbvia: maior competição, aumento do preço de toras, aumento dos custos de produção, aumento do preço do produto final. Como nos últimos anos ninguém tem plantado pinus em grande escala e como nenhum grande consumidor de madeira fechou as portas, em 2021 teremos ainda mais guerra por matéria-prima, com as empresas indo cada vez mais longe para obtê-la.
Esqueça a análise de disponibilidade de madeira por cluster. Não existem mais clusters diante da movimentação das grandes empresas no mercado!
- Quanto a novos projetos de celulose, acertamos em afirmar que não teríamos nenhuma grande novidade em 2020. E em 2021?
A grande novidade no setor de celulose brasileiro que se espera para 2021 é a conclusão do processo arbitral envolvendo a Paper Excelence e o Grupo JBS, pela disputa da Eldorado Celulose e um provável anúncio de expansão do grupo que vencer o litígio.
Fora isso, não devemos ter novos projetos anunciados, mesmo porque já existe um número de projetos anunciados maior que o mercado consegue absorver. Nesse sentido é necessário conter as expectativas, pois entre os anúncios que estão por aí, temos que separar o joio do trigo: há projetos baseados em disponibilidade de matéria-prima florestal e perspectivas claras financeiras para colocar a indústria em pé e, por outro lado, há projetos cuja estrutura financeira e a sustentabilidade de suprimento são misteriosas para qualquer analista de mercado florestal.
- Os preços de madeira continuarão a subir e o Grupo Index continuará a crescer
Os preços de madeira, de forma geral, manterão tendência de aumento em diversos mercados, tanto no pinus (em todos os seus estados), quanto no eucalipto (com destaque a São Paulo), pelo equilíbrio de mercado.
Embora 2020 tenha sido um ano trágico para toda a sociedade, o setor de base florestal manteve-se bem e o Grupo Index foi um reflexo disso, pois tivemos o melhor ano de nossa história! Em 2021 acreditamos que o mercado será igualmente movimentado e esperamos crescer nossas operações em pelo menos 50%!
Da mesma forma que previmos para 2020, em 2021 as indústrias de base florestal terão que entender ainda melhor a cadeia produtiva de madeira, pelo uso de inteligência.
O Grupo Index, por meio da Forest2Market do Brasil, disponibiliza mensalmente a dezenas de clientes o acesso à SilvaStat360, a única plataforma online de preços de madeira baseada em transações reais coletadas empresa a empresa. Além disso, desenvolvemos estudos customizados de oferta e demanda, prognoses de preços, análises de sites, avaliações de ativos, enfim, todos os produtos necessários para que os nossos clientes tenham completo entendimento do mercado.
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