Estamos a poucas semanas do término de 2024. Mas antes de olhar para 2025 e pensar nas minhas tradicionais previsões para o ano que se inicia, quero olhar para o ano que se encerra e selecionar alguns fatos e situações relevantes dos últimos 12 meses do setor florestal que serão preponderantes para entender o que nos espera em 2025. Afinal, esse ano foi muito movimentado para nosso setor!
Vamos começar por onde? Pela floresta, lógico!
A grande notícia para as florestas plantadas brasileiras no início deste ano foi a exclusão da atividade de silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras, exclusão essa que virou a lei 14.876/24. Esse fato não “extinguiu” o licenciamento ambiental para plantio de florestas, como divulgaram alguns (isso é uma outra história, bem longa), mas corrigiu uma injustiça histórica onde o plantio de árvores era elevado a um mesmo grau de potencial de poluição que, por exemplo, atividades como indústria química e transporte de cargas perigosas!
O segundo fato que merece destaque neste ano é, na verdade, um conjunto de fatos que têm origem em um segmento de nosso setor que, entra ano e sai ano, continua muito bem obrigado: a celulose e papel.
O ano que se encerra foi de muita movimentação nesse segmento, com a confirmação e início de grandes projetos que o Grupo Index já conta há algum tempo em seus estudos: CMPC, no Rio Grande do Sul, Arauco, Bracell e a inauguração da fábrica da Suzano, todas essas três em Mato Grosso do Sul.
Falando especificamente da Suzano, maior empresa de celulose do Brasil, além de inaugurar a fábrica de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul, a empresa deixou o mercado em pé ao fazer uma oferta de US$ 15 bilhões pela International Paper, maior empresa de celulose e papel do mundo, sinalizando sua estratégia de expansão internacional!
A negociação não se concluiu, mas a Suzano não parou por aí! Comprou 15% da austríaca Lenzing por R$ 1,3 bilhão, entrando no negócio de fibras têxteis sustentáveis, com opção de aumentar sua participação para 30% até 2028. Além disso, comprou duas fábricas de papel cartão nos Estados Unidos, em uma transação de USD 110 milhões.
Por fim, a última grande notícia desse setor foi a fusão entre Smurfit Kappa e WestRock, e o nascimento da Smurfit Westrock, maior player no mercado global de embalagens de papel, empresa de USD 23 bilhões de faturamento (para se ter uma ideia do tamanho, esse faturamento é 20% maior que o faturamento da International Paper e é cerca de duas vezes mais que o faturamento da Suzano).
O que explica toda essa movimentação do segmento de celulose? Vamos fazer um parêntesis na retrospectiva e lembrar que nos últimos 10 anos, o consumo mundial de celulose aumentou de 182 para 197 milhões de toneladas, ou seja, 1,5 milhão de toneladas por ano, que é equivalente a uma fábrica de porte razoável por ano! E essa movimentação não irá parar por aqui, em 2025 teremos novidades… Mas isso é assunto para nossas previsões, que você poderá ler aqui no início de Janeiro!
Outro assunto relevante que nos chamou a atenção em 2024 foi o aumento do consumo de madeira por players de base não florestal, em especial agronegócio e energia. O Grupo Index atende diversas empresas dos segmentos de energia de biomassa (térmica e elétrica), multinacionais do agronegócio e usinas de etanol de milho em vários estados. Em alguns desses estados o desafio de tais players é competir com os grandes “ursos” do setor florestal. Já em outros, o desafio é achar biomassa em regiões sem tradição florestal.
Outro trending topic deste ano foi a pressão realizada pela União Europeia contra a entrada dos produtos do agronegócio brasileiro no velho continente, que culminará com a adesão forçosa de nossas empresas à legislação europeia anti-desmatamento (EUDR). Muito embora o prazo de adequação das empresas tenha sido postergado para o fim de 2025, as manifestações recentes de multinacionais de origem européia contra produtos oriundos do Brasil, demonstram que não teremos vida fácil para manter esse cliente satisfeito!
Por fim, um assunto que merece toda a atenção do setor florestal: as mudanças climáticas e seus impactos e oportunidades. Primeiramente, não podemos deixar de falar aqui dos problemas que a sociedade brasileira teve esse ano com efeitos climáticos, seja pelo excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, seja pela falta delas na região sul e sudeste, ocasionando incêndios florestais e diversos outros efeitos negativos.
Um problema que evidenciamos esse ano em várias situações foi a constatação de perda de produtividade em nossas florestas plantadas pois se as condições climáticas mudaram, a forma pela qual fazemos as árvores crescerem também precisa mudar para voltarmos a ter ganho de produtividade no Brasil.
Mas esse assunto também traz oportunidades para o setor: esse ano foi marcado por muitas movimentações no mercado de carbono, no qual as florestas brasileiras possuem grande potencial de destaque.
Embora o mercado voluntário de carbono tenha sofrido novos golpes de credibilidade por conta de projetos (florestais) inidôneos desenvolvidos por pessoas (e empresas) mal intencionadas, entendemos que esse é um processo bom, que vai separar o joio do trigo e manter em cima da mesa apenas empresas e projetos confiáveis.
O mercado regulado de carbono, por sua vez, teve duas grandes vitórias esse ano, com a definição de questões remanescentes do Artigo 6 do Acordo de Paris, para colocar finalmente um novo mercado de créditos de carbono global em prática, e a aprovação (ainda aguardando sanção presidencial) do Projeto de Lei 182/24 que regulamenta o mercado de carbono no Brasil.
Esses fatos desenham um cenário favorável para o Brasil consolidar seu potencial de liderança em Soluções Baseadas na Natureza, que será culminado com a realização da COP-30 em Belém, PA, no final de 2025.
Ufa! 2024 foi um ano intenso! Devido à limitação de espaço eu tive que selecionar alguns tópicos e não pude falar de outros assuntos também importantes que movimentaram nosso setor! Falaremos sobre alguns deles em nossas tradicionais “10 previsões para o setor florestal” em 2025, que publicarei no início do ano!
Spoiler alert!: preço de madeira (vai subir ou vai cair?), disponibilidade de matéria-prima/insumo florestal, novas fronteiras de expansão (onde?), tendências macroeconômicas, cenário político e o mercado global de madeira (e o Trump, hein?) tecnologia, e novas movimentações de mercado (em estados inéditos)!
Aguardem!